quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Resenhando Recreation Day


Clássico é uma palavra comum entre os headbangers de todo o planeta para um álbum que é lançado e marca seu tempo, sua época como grande feito dentro do Heavy Metal e que muitas vezes por chegar a este mérito acaba virando algo que é bom durante todos os tempos, tornando-se um disco atemporal. Então aqui temos um lançamento que se encaixa perfeitamente nessa denominação, que preenche uma lacuna entre os dois álbuns, o atmosférico In Search The Truth (2001) e o conceitual The Inner Circle (2004) que seria este Recreation Day (2003) o maior lançamento dentro da discografia desta excelente banda que é o Evergrey classificada pelos críticos de revistas especializadas como uma banda de Metal Progressivo, mas a própria banda não se detém simplesmente a canções intricadas com compassos quebrados, instrumentos solados, escalas impossíveis e alguns dos clichês do estilo, mas sim focando primeiramente as atmosferas das músicas que sempre são carregadas de energias sombrias. Formado aqui pelos músicos Tom S. Englund (guitarra e vocal), Henrik Danhage (guitarra e backing vocal), Michael Hakasson (baixo), Patrick Carlsson (bateria e percussão) e o recém chegado Rikard Zander (teclados e sintetizadores) no posto que antes era de Sven Karlsson que deixou a banda para integrar o Soilwork. A capa traz várias imagens da igreja católica com corais, batinas com cruzes representando idéia central do álbum que na idéia geral era para ser conceitual falando da igreja católica de um modo amplo, mas no meio do caminho a banda decidiu então tratar de vários assuntos só fazendo menção a igreja na música Unforgivable Sin que fala do assunto mais polêmico dentro da igreja católica que é a pedofilia, por isso o centro das atenções na capa do cd traz uma criança em desespero já chocando o ouvinte sem ao menos precisar foliar o encarte por completo. No contexto lírico e instrumental segue a mesma linha, sendo um pouco mais aterrorizante e atormentador, músicas intricadas, mas com espaços para passagens diretas, coros de vozes (gravado ironicamente pelo Mercury Choir que foi emprestado da igreja católica da Suécia) e como sempre de bom gosto com um espaço para as linhas vocais de Carina Kjellberg que mais tarde viria a se tornar Carina Englund esposa de Tom, o álbum abre com a bombástica, direta e pesadíssima The Great Deciver com inúmeros fraseados de guitarra em alta velocidade, os teclados fazendo um ótimo pano de fundo acompanhado da bateria rápida, com linhas cheias de groove do baixo, contrastando perfeitamente com o vocal que é amedrontador, sendo que ainda tem alguns tempos quebrados aonde entra o coral de vozes cantando em latim, que ao terminar os seus versos volta à pancadaria direta e reta sem firula. End Of Your Days já é uma música mais atmosférica abrindo com os efeitos de sintetizadores, logo após vindo os outros instrumentos de modo mais swingado, para depois levar a canção para trechos cheios de slides das guitarras e do baixo a bateria fazendo um trabalho mais direto dá um ar ainda mais soturno para a canção, e fechando a descrição da mesma vale pelo belo solo de Henrik que aqui não apenas demonstra feeling no seu modo de tocar, mas também como é ótimo em escolher timbres que deixa canção ainda mais cheia sem lacuna nenhuma ficar vazia. Dando continuidade temos As Lie Here Bleeding, que começa com os teclados e a bateria chamando a responsabilidade e os outros instrumentos que dão uma gama bem tensa para a música, destaque aqui com certeza são as linhas de voz de Tom que são espetaculares é como se ele dialoga-se com o ouvinte é impressionante. A música que dá nome ao álbum Recreation Day entra de uma vez sem fazer corpo mole, com todos os instrumentos fazendo linhas diretas, principalmente as guitarras que soltam harmônicos pesados e nítidos em palhetadas animais, passado a introdução após entrar as linhas de voz permanecem apenas o baixo, a bateria e os teclados, que dão a expectativa para o que vira quando as guitarras voltarem e quando voltam se torna algo “fabuloso” os vocais de fundo ajudam muito na constituição final da música, os solos de guitarra estão fantásticos, rápidos e diretos caindo depois em uma linda melodia apenas dos teclados, voltando com um segundo solo da guitarra na volta do instrumental sendo esse mais lento e com uma cara mais blues fazendo desta uma das maiores canções do Evergrey na biografia da banda. Continuando a pancadaria sonora mal dando tempo do ouvinte digerir a faixa anterior, Visions entra arregaçando tudo entrando com palhetadas rápidas, teclados com harmonias tenebrosas, baixo galopante e a bateria dando show de groove e tempos quebrados, este ultimo instrumento que dá aula aqui com Patrick mostrando o porquê permaneceu no posto até então sendo que com certeza foi o melhor que já passou pelo posto na biografia do grupo, sendo este o trabalho mais progressivo já gravado em um trabalho da banda repare no ultimo um minuto e meio da música é algo que pouquíssimos músicos saberiam encaixar com tamanha inteligência e destreza. Acalmando toda a pancadaria das faixas anteriores aqui está um cover que até mesmo parece uma composição da banda, I’m Sorry música composta originalmente pela cantora sueca de Pop Music, Dilba Demirbag, aqui além de manter toda a melancolia da versão original, ganho mais peso, um belo solo de guitarra e uma orquestração magistral criada por Rikard Zander. Retornando de modo eletrizante temos Blinded que segue a linha direta, rápida, pesada com destaque para os fraseados de baixo, os backing vocals e a voz de Tom que é completamente implacável no estilo que a banda criou e se propõe a fazer com qualidade única. Fragments é uma canção de atmosfera carregada e que em alguns momentos pode-se até dizer que meio Doom Metal com um coral que canta o refrão junto com a linha de voz principal e chega até a arrepiar o modo com o qual ela chega a tocar a alma do ouvinte. Quebrando novamente toda a tensão do álbum temos a acústica Madness Caught Another Vision, aonde apenas se tem um unplugged de violão com cordas de aço e a voz de Tom bem mais calma sendo que a letra da mesma é tão opressiva quanto as anteriores já que ela fala sobre culpa, decepção e quando todos os objetivos de uma pessoa falham. Your Darkest Hour é a penúltima faixa e volta a seguir a linha de outra, com um belo refrão forte e cativante e belas linhas de teclados e sintetizadores, sendo que depois do solo tem se uma bela participação de Carina Kjelberg com o seu timbre lindíssimo. Fechando com chave de ouro temos Unforgivable Sin, uma música que começa com umas notas pesadas, cheias de groove que provoca interesse a cada segundo, logo após caindo em um momento voz e teclados, com um ritmo quebrado e insano algo não apenas sombrio, mas também depressivo, opressivo e algo que faz-nos pensar na decadência humana já que trata da questão da pedofilia dentro da igreja católica, novamente com participação de Carina que em algumas frases simplesmente acompanha a voz principal e em outra canta algumas frases sozinha. Aqui Tom Englund e sua trupe conseguiram fazer um trabalho majestoso em todos os sentidos, seguindo o estilo atormentador criado pelo seu líder em letras que nos levam a reflexão tratando de assuntos que poucos têm coragem de encarar como a depressão, os próprios erros e falhas nos seus objetivos e às vezes a questão das pessoas que usam do Santo e do Sagrado para cometer atos simplesmente repugnáveis como a pedofilia que acontece de modo assombroso dentro das muralhas da igreja católica. 10 é o mais adequado possível a este que talvez seja um dos lançamentos dentro do catalogo da banda que nunca vá ser superado...

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