terça-feira, 12 de outubro de 2010

Resenhando Mind Over Body


Como é de boa parte do conceito nacional, estamos acostumados a enxergar muito bem o que vem de fora, sempre menosprezando o que temos aqui dentro do nosso próprio país. Parece uma utopia que nunca terá fim, isto se aplica a quase tudo mas em boa parte a arte, seja ela visual ou musical, com isso deixamos trabalhos verdadeiramente interessantes e cheios de energia e criatividade dedicada do nosso povo passar despercebido. No Heavy Metal não é muito difícil ver uma pessoa se declarando fã de inúmeras bandas internacionais, e tecendo criticas e comparações com o nosso mercado, com isso que perde? O público ou as bandas nacionais? A reposta é uma só: os dois. Com isso deixamos de ter um cenário musical sólido com bandas estáveis, assim como ficamos na mão de bandas internacionais que pintam e bordam quando se trata do seu material, CDs, camisetas, todo o resto do seu merchandise e também em relação aos shows com preços exorbitantes. A outra coisa que nos faz refletir, se a coisa continuar do jeito que está como será o nosso cenário da música pesada depois que as grandes bandas acabarem? Eis então que podemos perceber o surgimento de uma nova safra de bandas e entre elas está o MindFlow! Banda paulista, que durante anos batalhou até lançar o seu primeiro disco em 2004 o Just the Two of Us... Me and Them. Desse ponto em diante surgiria uma das bandas mais criativa, complexa e inovadora do cenário nacional. Seu primeiro álbum lançado de modo independente trazia a formação de Danilo Herbert (vocal), Rodrigo Hidalgo (guitarra e vocal), Ricardo Winandy (baixo), Miguel Spada (teclados) e Rafael Pensado (bateria, percussão e vocal). Um grupo de grandes músicos que no primeiro álbum lançado de forma independente, mostraram para que vieram de modo único, logicamente que no primeiro álbum se percebia as influências de inúmeras bandas principalmente o Dream Theater por causa do lado progressivo. Mas ao mesmo tempo já demonstravam estar em busca de uma sonoridade única, não querendo ser conhecidos como o Dream Theater brasileiro, todos os músicos conseguiram mostrar um pouco do seu lado próprio e em partes já se nota isso.

Após este breve resumo, vamos falar exatamente do segundo álbum da banda o Mind Over Body. Com um nome bem subjetivo “mente sobre o corpo” o MindFlow não apenas encontrou o seu lado próprio musical como rompeu a barreira do simples cd físico, este que vem em um slipcase, dentro de um digipack, contendo dois encartes, sendo um o encarte com as letras e o outro uma história em quadrinhos (em inglês) da música Follow Your Instinct. Isso não torna apenas o álbum mais rico em si, dando também um ar muito mais complexo para o trabalho, fora tudo isso que foi citado ainda tem o ideograma que esta na capa é o ch’i em chinês e o ki em japonês. Ch'i (pronunciar "chee" e doravante escrito "chi") é uma palavra chinesa usada para descrever "a energia natural do Universo." Esta energia, apesar de chamada "natural," é na verdade espiritual oi sobrenatural, e é parte de um sistema metafísico, não empírico. Não obstante, os crentes no Chi fazem afirmações que podem ser empiricamente testadas. Proponentes afirmam provar a existência e poder do Chi curando pessoas e fazendo truques mágicos, como partir um pau com a ponta de uma folha de papel, ou como partir um tijolo com o pé ou a mão nua. Boa parte dos enigmas por trás do álbum desvendados, partindo agora para as canções em si, como dito anteriormente o MindFlow segue uma linha musical direcionada para o Metal Progressivo, se no primeiro álbum havia andamentos, rápidos, lentos, pesados, leves e uma enorme gama instrumental, em Mind Over Body isso é aumentado ainda mais. Por isso que talvez esse seja um dos álbuns menos indicados para se conhecer a banda, pois por mais que ele circule em cima de um único tema espiritual/físico as músicas seguem linhas diferentes, com muita variação musical tantos no instrumental, quanto no vocal. A música de abertura Crossing Enemy's Line já demonstra a cara de como vai ser o álbum, começando com um instrumental enigmático e inúmeros efeitos de teclado, depois caindo em algo mais orgânico mas extremamente variado, com muito groove e quebras de tempos insanos, abrindo caminho para um vocal mais sujo e rasgado de Danilo Herbert, que logo depois cai em no seu timbre mais bem usado entre o agudo e grave, consiste em seus doze minutos de música, quando todo o instrumental para efeitos de teclados tomam toda a música até a volta climática, sendo que nesta canção também pode-se ouvir claramente a influência do Metal Progressivo dos anos oitenta. Logo após o fim bombástico da primeira canção, entra a Upload-Spirit com uma guitarra bem grave e linhas rítmicas de bateria acompanhando, dando alas a um instrumental bem contagiante em todos os sentidos junto de um coral que parece de monges, nela já se pode sentir o lado progressivo mais direto e com o vocal mais limpo, numa linha diferente da primeira canção mas dando continuação, em algumas partes as guitarras de Rodrigo Hidalgo lembram demais as afinações insanas de Tom Morrelo (ex-guitarrista do Audioslave) sendo que essa música tem uma carga bem mais dramática. Thousand Miles From You é a primeira balada do álbum, que corta um pouco dos climas intricados, enigmáticos e sombrios das canções anteriores, a grande diferença é que se saca uma grande diferença nessa balada, tem um lado mais para o Pop com um toque de Blues, os grandes destaques ficam para os vocais, o piano de Miguel Spada e o latente e harmonioso baixo de Ricardo Winandy. Logo após outra balada Just Water, You Navigate está canção é um pouco diferente, pois percebe-se de cara que ela é uma típica balada de Metal Progressivo, o baixo Ricardo e a bateria de Rafael Pensado carregam a música, tanto no ritmo quanto ao que diz a linha instrumental que esta mais variada, com algumas viradas aqui e ali de bateria e escalas de baixo, sendo que logo após os quatro minutos a canção ganha um ar mais pesado e desesperado por assim dizer. Chair Designer trás de volta o ar pesado e psicodélico do álbum, entrando com um ritmo constante do instrumental, logo após caindo em uma linha mais variada, até a entrada dos vocais e ficar tudo muito intricado, nela os riffs de guitarra são bem audaciosos e pesados, onde os teclados estão bem altos e mostrando desde um lado mais técnico até o lado mais tenso da música com certeza uma das melhores linhas de Miguel enquanto esteve na banda, pois nos dez minutos de música ele demonstra uma variação de timbres e rítmica muito interessante. A Gift To You da continuação ao lado mais depressivo e apreensivo, com uma linha bem fria e triste de piano a voz de Danilo parece simplesmente deslizar pelas notas, ainda em uma parte dando espaço para um pequeno solo de violino que casou perfeitamente com a idéia e harmonia central da música, que termina um singelo coral. Hellbitate surge de modo nada modesto, com alguns efeitos acompanhados de uma guitarra pesadíssima, os vocais cheios ruídos, indo para um lado mais progressivo e agressivo, nela a bateria se sobre sai de modo formidável não só pelas quebras de tempo, mas por viradas muito bem criadas que caem como uma luva em todos os doze minutos da canção, não seguindo uma única linha, sendo está uma das músicas mais complexas do álbum pois ainda cai em um clima, mais lento aonde as linhas de piano imperam de modo magistral, dando mais uma vez espaço para lindíssimo solo de violino, que logo após dá espaço para que a canção cresça e fica pesadíssima novamente, terminando está apenas com as vozes cantando e alguns efeitos. Follow Your Instinct é a canção mais longa com quase dezesseis minutos de duração, complexa e de difícil absorção, pois além de conter um conceito aonde é contada uma história, têm o seu lado musical que é extremamente variado, quebrado, pesado, acústico e cheio de groove principalmente as linhas de guitarra e voz. Para fechar o cd com chave de ouro a sombria Hide and Seek, canção que começa com linhas de piano e violino que chega a lembrar antigos filmes de terror, logo após se tornando ainda mais obscura com a entrada dos outros instrumentos, os vocais de Danilo começam bem sussurrados conciliando com a estrutura da música, um clima arrepiante floresce nesta música conforme vai rolando a audição sendo essa música meio que um Dream Theater com um toque de King Diamond. Como é de costume no estilo, algumas bandas pedem para que seus trabalhos mais complexos ou variados sejam ouvidos três vezes no mínimo para que se emita uma opinião, no caso de Mind Over Body ouça no mínimo cinco vezes, pois este não é apenas um cd complexo musicalmente, mas também fisicamente e tudo se encaixa numa gama musical extremamente focada e que a cada audição percebe-se elementos novos em cada canção parecendo ser um mar infinito de criatividade. Este álbum é nota 10 por ser um segundo trabalho de uma banda nova, que fugiu do comum tanto no cd físico quanto no lado musical!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Resenhando Aqua


Aqui está um álbum que há muito tempo foi esperado, por muitos fãs no mundo, mais ainda pelos fãs tupiniquins. Depois de uma longa pausa de três anos a banda Angra veio a anunciar um novo álbum de inéditas, depois de passar por um processo demorado e lento em relação a dois aspectos diferentes. O primeiro foi à abertura de processo contra o seu antigo empresário Antonio Pirani, pois o mesmo se endividou de tal forma, que chegou a vender parte dos direitos autorais sobre o nome da banda, para o pagamento de suas dívidas, ai entrou o processo de desligamento de contrato e o pedido judicial pelos direitos autorais do nome da banda, por Rafael Bittencourt guitarrista e líder da banda. Vencido esse processo, veio o segundo aspecto que era quem ficaria ou não na banda, em suas reuniões foi decidido em uníssemos que apenas o baterista Aquiles Priester deixaria a banda, por suas declarações sobre os climas pesados dentro da banda antes do encerramento temporário das atividades. Sendo assim é chamado para o posto de baterista Ricardo Confessori, que até então estava no recém reativado Shaman, e por ter tocado em algumas faixas do cd solo de Rafael Bittencourt (Bittencourt Project). Então com uma nova empresária fazendo os negócios pela banda e com o antigo ex-baterista que havia ficado durante 10 anos na banda de volta, eis que começaram os preparativos de um novo álbum.
Então é anunciado um novo álbum de estúdio, com isso a banda começa a colocar online no Youtube os “vídeos reports” que seriam vídeos de estúdio com alguns trechos das gravações, assim como outros de coisas mais pessoais da banda como a chegada no sítio de Ricardo Confessori aonde foi gravado parte do cd Holy Land. Por falar neste álbum dá para perceber que muito do contexto deste álbum tem ligação com o Holy Land, pois as músicas estão com aquele jeitão mais étnico de ritmos brasileiros, depois de muitos vídeos postados no Youtube e o vazamento de um trecho de gravação de uma música até então denominada “Speed Étnica” por Edu Falaschi no Twittcam, é anunciado que o título do novo álbum seria “Aqua” do latim significa água. Algum tempo depois disso o nome das músicas é anunciado junto com o contexto lírico do álbum que seria baseado no livro Tempestade de Willian Shakespeare, com todos esses detalhes foi criado uma generalização de que viria um álbum espantosamente poderoso e variado, então a banda decidi postar no seu myspace uma das faixas do álbum, que foi a segunda do cd que pegou a todos de surpresa, está musica era “Arising Thunder” está música constitui algo mais orgânico, bem rápida cheia de riffs poderosos e com um contexto bem diferente do que todos esperavam, e com duas coisas novas, sendo a primeira os teclados que nessa música quase não se pode ouvir e que entra apenas nos três minutos e quarenta e cinco segundos, mas de modo bem singelo e bem abaixo dos outros instrumentos. O segundo ponto bem interessante é que a voz do Edu Falaschi está na sua melhor forma, como diz o velho ditado “Antes tarde do que nunca” ele encontrou o timbre de voz aonde ele pode cantar perfeitamente bem sem se esgoelar, como nos álbuns e apresentações anteriores, pois agora está usando um timbre mais grave e sem tantos agudos como nos CDs “Temple of Shadows e o Aurora Consurgens”. Logo após surge uma versão acústica de uma das baladas do cd, gravado em um estúdio de rádio a canção foi a “Lease of Life” cheia de feeling com um instrumental bem simples. E então o álbum é lançado no Japão e com isso mata a curiosidade de todos os fãs da banda pelo mundo inclusive no Brasil, a música que abre o cd inicia-se com a faixa de abertura Viderunt Te Aque que tem sons de um o que mais parece ser o capitão de uma embarcação, com seus comandados em alto mar no meio de uma tempestade. A segunda faixa é a veloz Arising Thunder, faixa cheia de guitarras gêmeas, inúmeros solos uma bateria bem rápida e técnica completando a cozinha com um baixo vibrante, os vocais é o que mais chama a atenção, pois logo nessa música se pode ter uma grande compreensão da melhora dos vocais de Edu Falaschi. Awake From Darkness terceira faixa do cd, começa de modo muito interessante e rítmico, nesta canção o ouvinte pode ser remetido aos tempos do Holy Land com certeza, nela os teclados aparecem mais para dar um tom ainda mais climático à música, logo após vem à balada Lease Of Life que foi citada anteriormente. Eis que surge então uma das músicas mais vibrantes do álbum The Rage of The Waters nela pode-se perceber uma bela mistura daquele forró mais antigo nordestino com uma levada de Metal, uma combinação interessante, sendo que a música alcança o seu ápice no refrão logo após sendo acompanhada de um clima mais épico de teclados, os grandes destaques dessa canção são Ricardo Confessori (bateria) e Felipe Andreoli (baixo) que transformam a música em um belo Baião em alguns momentos, com uma ótima gama de swing. A sexta música Spirit Of Air com certeza é uma das melhores baladas compostas pela banda, está sendo uma composição de Edu Falaschi e Kiko Loureiro nela se nota o quão belo é o alcance vocal de Edu quando mantido em tons mais graves, principalmente na introdução da música quando aonde se pode ouvir a voz dele com muita clareza, acompanhado de uma linha de violão dedilhado. Agora em Hollow nota-se o pouco que ainda sobrou de influência do cd anterior o “Aurora Consurgens”, pois ela tem uma introdução de sintetizadores e também tem uma linha mais direta e agressiva, mas no meio da canção se tem passagens bem interessantes de violão que logo após dão espaço a um solo de guitarra com um clima muito tenso. Então vem a Power balada dramática, A Moster in Her Eyes, com certeza ela poderia ser usada como uma trilha sonora em algum filme medieval, sendo que as linhas de violão no começo nos remete diretamente ao primeiro grande hit lançado pelo Angra nova era a música Rebirth. Uma das músicas mais trabalhadas do álbum Weakness of A Man é bem interessante sobre saindo, sendo que alguns momentos ela até tem um certo tom de música pop, pois é uma música que atrai o ouvinte a cada instante surge uma coisa nova na canção, sem contar que o ritmo e o timbre de Edu nesta canção é algo inacreditável. Fechando o álbum surge então a balada fúnebre Ashes, está canção remete o ouvinte diretamente à música Visions Prelude, mas com uma grande diferença quando o ritmo cresce depois do primeiro um minuto e dez segundos da canção, aonde não apenas os teclados são o carro chefe, mas as guitarras, baixo e bateria dão um alcance ainda maior com as linhas vocais seguindo uma linha com muito feeling e com ótimos backing-vocals de fundo, o aspecto muito interessante é quando a música para, então os teclados voltam logo após acompanhado de um voz feminina fazendo o que seria uma citação, então a música novamente volta ao tom mais dramático com um ótimo solo de guitarra. A versão japonesa do álbum vem com uma versão remix de Lease of Life aonde se tem apenas a voz e os teclados, sem a cozinha e as guitarras. O que mais chama a atenção neste álbum sem duvida nenhuma é os vocais de Edu Falaschi que agora parece ter a experiência e a compreensão de que a sua voz em tons mais graves tem um efeito melhor nas canções, a bateria de Ricardo Confessori surpreende muito principalmente na música Arising Thunder aonde ele demonstra que também tem a capacidade de tocar músicas velozes e cheias de pedais duplos. O saldo final do álbum é bom, com apenas dois aspectos negativos o primeiro é a mixagem/produção que foi feito pela própria banda no Norcal Studios em São Paulo com a supervisão de Adriano Daga e auxilio de Brendan Duffey, que deixou o álbum mais oco e com um som mais sujo. E o segundo ponto negativo seria a falta de mais uma ou duas músicas com mais velocidade e punch, um álbum que pode-se dizer que é mais um renascimento da banda. Nota 8.